A Mulher Exigente
”Um homem só é feliz ao
lado de uma mulher se é dele o controle remoto.” Foi o que me
disse outro dia meu amigo Guillermo. Guillermo foi vítima da Mulher
Exigente. Alessandra, sua namorada, transformou-o num escravo. Ela
escolhia os filmes no cinema, os DVDs, as peças de teatro. Ela
escolhia os restaurantes, as viagens, os hotéis. Ela escolhia as
posições sexuais e as preliminares. Aliás, demoradas e extenuantes
mesmo para uma pessoa atlética como Guillermo.
E a morte: ela não lhe dava
a menor chance de pegar o controle remoto.
A Mulher Exigente não é
uma espécie exatamente nova. Na Bíblia, você encontra muitas
delas, como Betsabá, que mandava no rei Davi, que mandava em todos.
(Para tê-la, Davi enviou o marido de Betsabá à frente de uma
guerra. O objetivo era que ele morresse, o que logo aconteceu.) A
Mulher Exigente, repito, não é novidade. Mas o fato é que, nos
tempos recentes, com o avanço feminino em todas as áreas, do
escritório ao futebol, ela se multiplicou espantosamente.
A Mulher Exigente parece se
vingar, em cada homem, da dominação masculina secular. O homem não
é um parceiro, um cúmplice, a metade de um todo. O homem é o
concorrente a ser batido. Como uma gladiadora sem direito a férias
nem fins de semana, a Mulher Exigente está em combate o tempo todo.
Ela quer espaço, mas não em pedaços. Ela quer todo o espaço.
A Mulher Exigente despreza o
avental e a cozinha. Despreza sua mãe, sua avó e todas as
antepassadas que se curvaram ao pérfido domínio masculino. Despreza
o homem. No fundo, a Mulher Exigente prefere um vibrador a um macho,
porque é mais fácil de manejar. A frase masculina que mais a excita
sexualmente, dita num timbre tímido e amedrontado, é: “Posso?”
Ela não fala, grita. Ela não pede, manda. Ela não cede, impõe.
Ela não fala, grita. Ela não pede, manda. Ela não cede, impõe.
E ela, paradoxalmente, é
nossa cria. Nós inventamos nosso inimigo. Nós a demos à luz. Nós
e nossa covardia culpada. Porque nós nos sentimos culpados por ser
homens e mandar, desde sempre. Nós caçávamos os javalis enquanto
elas ficavam no conforto aquecido da caverna, nós nos expúnhamos ao
frio e aos dentes da fera e, mesmo assim, carregamos um sentimento de
culpa que se refinou ao correr dos longos dias e foi dar na
proliferação da Mulher Exigente.
Somos vítimas não da Mulher Exigente, mas de nós mesmos.
Somos vítimas não da Mulher Exigente, mas de nós mesmos.
Viramos subalternos,
ganhamos a docilidade pétrea de recrutas perante generais. Nos
transformamos em pó. Somos chicoteados e agradecemos ao chicote e à
mão que o empunha pela deferência em nos escolher como alvo.
A queda da Bastilha selou a
Revolução Francesa. Entendi, pela expressão aterrorizada de meu
amigo Guillermo, que a Bastilha de nós, homens, é o controle
remoto. Ao perdê-lo, perdemos tudo. É o último reduto do homem que
não se rende, a sua Excalibur. A derradeira esperança, a tocha
trêmula numa escuridão espessa.
A Mulher Exigente vai mandar
você deletar este texto.
E você vai deletar.
Fabio Hernandez
